quarta-feira, 23 de junho de 2010

Adeus José Saramago


A primeira vez que tive contato com ele, não foi ao acaso, minha irmã mais nova, havia pouco tempo se formara no curso de letras e, faria aniversário dali a poucos dias, saí a procura de algo para presentear-lhe.

Ao entrar em uma livraria vi seu livro em uma pilha gigante, chamava-se "Ensaio sobre a cegueira, José Saramago". Passei o livro para as mãos e folhei-lhe todo, dizia na capa "Prêmio Nobel", crendo que ela adoraria o presente, acertei, minha irmã Rita toda feliz disse-me que deveria ler a obra e eu o fiz. Daí em diante me apaixonei pelos livros deste português estranho, ao menos para mim.

Alguns anos depois, cursava o 1º ano do curso de jornalismo, quando um de nossos professores chegou com alguns convites para uma cátedra e lançamento do livro "O homem duplicado", pela primeira vez na vida ouvi o autor de um livro ler sua obra. Fiquei emocionado com sua leitura pausada, o sotaque lisboeta intenso e delgado, falava com tanta força o nome da personagem Maria da Paz, que me conduzia para o leito da história, eu ali real a observar toda a beleza de Maria da Paz com seus gestos de amor.

Mais tarde o vi pessoalmente no SESC Pinheiros e lhe disse: José um dia eu serei um grande escritor assim como o senhor o é, ele me respondeu: podes não ser? eu insisti, mas serei, pois vou me dedicar para isso, ele olhando-me nos olhos disse outra vez: vou lhe dar um conselho, o conselho é bom, se queres podes ficar com ele, se não fico eu com o conselho, disse-lhe que queria o conselho, ele me disse amavelmente: leia, leia, leia, leia... e escreva e deixe as coisas acontecerem naturalmente, boa sorte e me apertou a mão.

José Saramago, grandíssimo homem e escritor, sua estada nesta vida previsível foi o máximo, dedicou em um de seus livros, A Pilar até o último instante, e partiu nos braços de sua amada mulher, em Blimunda me emocionei quando li : "começava a escurecer, mas, agora, de nenhuma noite teria medo, se tão negra é a que leva dentro de si", em João Mal-Tempo, do Levantado do chão, "... que por enquanto o espelho ainda pode mostrar-me, se isto é a força da vida, então deixem-me chorar.", o homem precisa chorar Saramago. Escreveu ainda mais em seus Cadernos de Lanzarote que a porta por onde se chega a Fernando Pessoa é a porta que se chega a Portugal, para mim, você é a mais nova porta que se chega a Portugal.

Pode acreditar deixaste a língua portuguesa mais saborosa e a literatura pelo mundo belíssima e duradoura.