quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Rua São Teófilo




Há tempos não via a Rua São Teófilo na vila Medeiros em São Paulo, a última vez foi há quarenta anos, quando eu tinha quatro anos de idade.
No último mês de junho, minha irmã Rita me convidou a irmos a Vila Medeiros e pude retornar a aquele lugar de minha infância. Rua que leva o nome de um antigo teólogo cristão e bispo de Antioquia na Síria que viveu até o ano 186 DC, Teófilo. Tantas lembranças me subiram ao coração. Naquele ano de 1972, havia uma lojinha de presentes e brinquedos e, sempre seu proprietário, em um terreno baldio ao lado de sua loja, incendiava o que não mais lhe interessava e em uma manhã gloriosa, um dos colegas da rua deu o brado de vitória: Estão queimando brinquedos da lojinha! Eu saí em uma disparada fantástica e fui um dos primeiros a chegar ao local da chacina, com meus olhos pasmados, pude ver vários brinquedos a queimarem, ao lado vi uma coelhinha de plástico e ao oposto vários brinquedos incríveis para minha pobreza e, em uma dúvida cruel, optei em resgatar a coelha, enfiei a mão no fogo e a trouxe para mim, quando retornei a ver se apanhava mais algum brinquedo não restou nada mais,ou foram apanhados pelas outras crianças ou as chamas os devoraram. Ao escolher a pequena coelha descobri que possuía um coração danado de compassivo. Dei o nome a ela de Tetê e ela vive comigo há quarenta anos com o sinal da queimadura em sua pata direita.

Naquela rua vivi anos incríveis de minha vida, ali criei meus primeiros personagens, via minhas irmãs devorarem leituras de gibi e eu maluco para aprender ler e também saciá-los ou quando esperávamos minha mãe cansada do trabalho no dia de seu aniversário, alguém das irmãs olhava pela ruazinha sua aproximação, apagávamos toda a casa e quando ela adentrava cantavamos os parabéns a ela, no auge de seus 44 anos, uma menina ainda, e me pergunto: O que aconteceu conosco? Onde nos perdemos? Aprendi logo cedo que a pobreza nos enfraquece, comia muito uma mistura de farinha, água e açúcar que na maioria das vezes era o que tínhamos para saciar a fome, lembro-me da minha gatinha Mimi, que depois do despejo que sofremos por falta de pagamento do aluguel, se perdeu no novo bairro que passamos a residir, como sofri com isso! Visitei a caixa d’água em frente ao colégio público, a Rua São Leotélio onde morava minha avó Geralzina e, a avenida Conceição que sempre levava minha mãe para o trabalho que muitas vezes nos arrancava ela por semanas a fio.
Nossa singela casa tinha um quintal, ao qual dividíamos com mais outras quatro famílias, um modesto cortiço, onde varais de roupas, plantas, objetos diversos e pessoas a transitar, me dava à impressão de vivermos em uma grande cidade.
Hoje quarenta anos depois tudo esta diferente, a lojinha de brinquedos não existe mais, o cortiço que continha minha casinha também não, foi trocado por uma casa moderna. O que não mudou foi meu coração, que mesmo depois de tantos anos pode se alegrar com aquela rua com nome de bispo teólogo, alegrou-se da mesma forma que o coração do menino se alegrava sem saber da pobreza física que sofria. Minhas irmãs que cuidavam de mim, meu pai forte trabalhador e minha mãe Que conduzia tudo com seu carisma fenomenal, naqueles inesquecíveis anos.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Páginas em rosa


 Amo-te
 Por que eu?
 Porque me ocupa a vida, o rosto, braços e pernas, pele e suor, unhas e 
pescoço e tudo e mais e muito mais
 Porque és belo Senhor e tens o Espírito adocicado, suave e amado
 És benigno e tua benignidade alojou-se em mim
 Assim como a brisa quente domina a tranquilizar mares profundos e subalternos
 És uma joia para mim, não a que se encontra em lojas finas ou butiques de glamour
 Mas uma joia rara, de brilho autêntico, que bem sei encontraria apenas após percorrer noventa e oito anos o mundo bastante
 e, só diante de ti encontraria, tamanha beleza
 Tive sorte, no auge da vida, quando nada era o que buscava, então pude me deparar com teus olhos, 
sorrisos, e gestos e esplendor a brilharem em mim, como jamais havia me chegado
 Já no primeiro olhar, levaste meu coração, o pensamento, as lágrimas e os sentimentos
 De imediato me questiono: “onde me caberia tamanha beleza?
 Reconstruindo-me durante o resvalar do pensamento com o coração
 Não tive noites ou dias
 Sons ou silêncios
 Falas ou olhares Lágrimas ou sorrisos 
E o deitei em mim, para que permaneças meu, amado mestre e Cristo
 Certo, me dizem, me dirão: “que louco és!”
 Sim melhor me é ser louco, do que a passar pela vida despido de tamanha beleza de sentimentos
 Louco sim, covarde jamais!
 Covardia que não possuo, nunca possuirei 
A covardia é para os fracos que se trancam em mundos intransferíveis,
 inventados
 Eu mesmo mundo não o tenho e minha coragem é o alicerce que impulsiona-me as palavras de amor que sinto por ti, 
querido Jesus
 Quem mais me amaria assim, ou me desejaria com tanta força?
 E eu tentando ao menos escrever um ensaio de tua formosura...
E tua habitação, as janelas, que tesouro elas possuem.
 Enquadradas te assistem, muito mais do que estas páginas em rosa que te escrevo