segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Falta de tampas


Esta crônica, escrevi na época em que cursava, creio eu, o segundo ano do curso de jornalismo. O fato aconteceu em um bairro da periferia de São Paulo e decidi publicá-la aqui na integra, como segue.

Pode-se imaginar quantas tampas encontra-se por ai? Certamente um número consideravel grande, há uma diversidade de tampas por toda a cidade e, com infinitas utilidades.

Então vejamos, há tampas de remédios, para que não se estraguem, de panelas (as de pressão são as mais perigosas), tampas para alimentos, bebidas, tintas, colas e, a relação se perderia em uma lista interminável. Há quem diga que se uma pessoa esta só, poderá sossegar, pois é lógico que haverá uma tampa para ela também. Todas essas tampas citadas aqui, quando não encontradas em seus respectivos lugares, não terão um perigo grave, pois serão notadas com facilidade e, o erro percebido e corrigido.

Mas existem tampas que fazem falta, podendo causar um grave acidente, pondo em risco a vida de diversas pessoas. Umas destas tampas são as de bueiros, que protegem o cidadão, das águas fluviais e sujas, repletas de ratos, baratas, micróbios... Justamente a maior incidências de desaparecimento das tais tampas podem causar, por exemplo, um acidente de automóveis.

A coisa fica mais grave quando se trata de inocentes! No final do mês passado, alguém teve a infeliz idéia de furtar uma tampa de bueiro e, vendê-la para um receptor mais infeliz ainda, que não denunciou o caso a uma autoridade competente. Essa querida tampa descansava tranqüila em um gramado convidativo, que não demorou e, chamou uma criança a brincar ali, sem a tampa para protegê-lo, o menino caiu e desapareceu nas galerias de águas e esgotos da cidade.

A mãe e o pai, bombeiros, jornalistas, telespectadores e algumas autoridades, torciam pela frenética busca de encontrar a criança ainda com vida. Os dias se passaram e esta esperança foi aos poucos se perdendo, no local do acontecido, já substituíram a tampa arrancada pelos malvados cidadãos, se é que se pode classificá-los assim.

E a tampa que tiraram do bueiro, a quem venderam e, de que serviu? Bem certo que foi reciclada, tampa de bueiro não será mais, poderá transformar-se em arma de fogo, ou quem sabe em alguma peça para aviões de guerra, melhor seria que virasse estrutura de cadeiras de rodas, a algum deficiente, ou ainda, vergalhões, que sustentariam uma nova maternidade. O certo é que nada, em verdade nada, justifica o grande e principal erro.

O triste, é que a única tampa que encontraram neste caso, foi a 50 Km dali, era o corpo da criança e, o mais precioso e importante, o seu conteúdo, não estava mais ali. Sua alma que se perdeu ao ser aberta a tampa da vida, não mais podendo ser apreciada pelo mundo dos viventes.