sábado, 9 de abril de 2011

Diário de partida da mulher amada


Se partir

meu coração será estrábico

Andante, vai por aí a zunir

E tendo sorte

encontre um canto que lhe possam cerzir

Cerzido fica a cicatriz

e alguém ao ouvido que me diz: agir rapaz, agir!

Eu com olhares repondo: agir!

A quem hei de seduzir?

Mas a palavra falada tenta me acudir

diz ao receptor: deixe de me zurzir!

Já não basta a mulher amada que não quer meus dias vestir?

Quanta tristeza enfadonha neste ir

O verbo no imperativo de pensamentos gelados

tenta tudo a volta descolorir

Imagino uma camisa de forças ao corpo aderir

Porque afinal ela tinha que partir

As lágrimas e as chuvas frequentes a adir

Ir, ir, ir...

Não penso em outra coisa

se coisas servem ao intelecto para transmitir

uma maneira de este problema sucumbir

A solidão insana que tenta me iludir

Se não partisse para longe teria que admitir

Que me amas!

Assim na distância eu não teria que refletir

Aferir

uma esperança

espero-te na porta a vir

Tolice minha crer nos pincéis que querem este desejo colorir

o que machuca é esta indiferença que não quer sair

Da sua partida que não demora o seu por vir